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Barriga Mendinha

Barriga Mendinha

07.11.17

A alegre ambiguidade de uma vida que “lá vai correndo bem” entre pais e famílias separadas

Barriga Mendinha

Uns dias o coração fica tão pequenino e apertado que parece estar enrolado num daqueles saquinhos de vácuo: são as saudades a esmagar o peito, principalmente quando temos “deste lado” programas que ele gostaria de participar ou quando a mana chora por ele ( às vezes chega a por a mesa para quatro e insiste em “falar” com o irmão enquanto o faz como se ele estivesse em casa).

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Outros dias, sinto que ele precisa “da outra família” e se sente também feliz por lá (não estou a fazer demagogia, como muitas por aí fazem, acredito mesmo nisso!) e isso conforta-me o sentimento de mãe saber que, quando ele crescer, não perdeu vivências em nenhum dos lados. Este sentir é algo que se apura, sim, não sou tão boazinha e perfeita assim! Mas lá vou tentando e acreditem que nos dias que correm já é tão genuíno quanto as saudades. No fundo, só quero o bem do meu “puto” e que cresça com a cabeça no sítio.


Os meus filhos são oficialmente meio-irmãos! Irmãos (só) da parte da mãe mas, cada vez mais essa “treta” do ser qualquer coisa pela metade não faz sentido nenhum. Basta observar, por exemplo, num caso como o da nossa família, como o Afonso Luz consegue ser “inteiro” em ambos os lados (porque também do lado do pai tem um irmão mais pequeno) . Separei-me do pai do meu filho ainda grávida e vivi um processo que não foi fácil mas que tive de gerir e que ainda hoje tento “aperfeiçoar”. Na verdade, há um caminho que tento seguir e outro ao qual vou estando atenta a sinais aos quais não seguir, para onde não quero escorregar. Tenho visto relações entre pais separados tão feias, infantis, ignóbeis, irracionalmente destrutivas que, desde cedo (mesmo com razões fortes para a nossa rutura) decidi que essa nunca seria a linha de relacionamento com o pai do meu filhote. No fundo, o meu filho viveria a relação com o pai (e mais tarde com a família que ele foi criando também) da forma mais próxima e mais saudável possível. Acredito, que também por isso, o respeito se foi instalando também da parte dele, e mais tarde da mulher que tem ao seu lado.

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E aqui é que me tiro, a mim mesma, o chapéu (sem falsas modéstias), porque aprendi a gerir as crises, discordâncias, problemas com calma e muita paciência, porque, acreditem que para mim a prioridade não é a nossa (não) relação mas sim a felicidade do nosso filho. E agora, passados quase sete anos “disto” - de uns momentos em que tive que engolir sapos, de outros em que me controlei, de alguns ainda em me readaptei - até consegui que o “outro lado” se fosse moldando também. Sei que foi o caminho certo! E foi tão certo, que a cereja no topo do bolo foi que conseguimos chegar a uma plataforma de entendimento e carinho tal pelos miúdos ( de ambas as casas ) que a minha filha já dormiu umas quantas vezes na casa do pai do mano e é sempre muito bem recebida quando isso acontece. Até lhe chama também “Pai João”, imaginem!

 

Agora ando a tentar que seja a Matilde a entender como as coisas se processam, porque ela sim é só sentimento, não há cá racionalizações em crianças de quatro anos, e sofre bastante quando o mano se vai embora. Ainda é difícil explicar-lhe mas a pouco e pouco vai captando. Além de que muitas vezes arranjo estratégias para amenizar a ausência: ora vai para casa da avó, ora brincar com amiguinhas … Sei lá! No fundo, procuro entretê-la para que não sinta tanto a falta do companheirinho (como de embirrice, ou não fossem irmãos com idades próximas). Isso e gerir essa minha sensação de impotência e injustiça por ter com ela muitos “momentos de filha única” nos momentos em que ele está fora e com ele serem quase impossíveis e sentir que o tempo que lhe dedico é curto... Mas, enfim, essa é mais uma luta para a qual, acredito, conseguir mais dia menos dia algumas pequenas soluções apaziguantes. A ver vamos... Até lá vamos vivendo com a sorte, o amor e a ( tentativa de ) coerência no coração e na forma de nos relacionarmos. Com o foco nas crianças e não nos adultos. Nós já estamos (ou deveríamos estar) resolvidos… A eles, sim, temos de dar o nosso melhor para que venham a tornar-se seres completos, sérios, com as prioridades e os princípios no sítio e o menos confusos possível. quicksquare_2017117165318773.jpg

A vida, cada vez mais, passa por saber gerir situações e ser feliz ao aceitar as nossas cada vez mais sui generis realidades: familiares, sociais, profissionais... O meu esforço em “tudo isto” é esse mesmo: oferecer-lhes bases para que se adaptem e sejam felizes com quem são e com quem os

rodeia. Este é um bom objetivo e foco como Mãe e como pessoa, não acham?


( Texto escrito para a edição Outono/Inverno da revista Lux Crianças)

 

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